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Jair Bolsonaro já vai tarde

Bolsonaro é o sistema, Lula também, mas a República insiste em cultuar o sebastianismo.
Bolsonaro: Compradores internacioais de madeira tem feito vista grossa. Foto: Marcos Correa.

Jair Bolsonaro antecipou em dois dias o fim de seu mandato. Já voou, no começo da tarde desta sexta-feira, 30, rumo aos Estados Unidos em um avião da Força Aérea Brasileira. O destino é Orlando, estado americano da Flórida.

Com a viagem, cumpre ritual premeditado bem antes, o de não passar a faixa para seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, que discute com aliados e seu partido qual a personalidade da República cumprirá a tarefa. Cogita-se o presidente do Congresso Nacional Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ou quem sabe a presidente do STF, Rosa Weber.

Segundo O Globo, ao sair do Palácio da Alvorada pela última vez como presidente, Bolsonaro utilizou a saída lateral para despistar a imprensa e, quem sabe, algum fanático eleitor, que debaixo de chuva e sol há mais de 50 dias clama do chefe supremo das Forças Armadas, o presidente da República, uma intervenção militar ou um golpe que, de minha parte, sempre soube que não ocorreria.

Bolsonaro se recolheu, e desde a proclamação da derrota pelo TSE não deu a mínima para seus eleitores. Agora parte sem dar qualquer informação sobre a viagem, quem o acompanha e o que fará pelo território americano. Antes, fez uma live falaciosa de condenação do terrorismo de uma bomba em Brasília no dia de Natal.

Grande parte dos que o seguem nem indignados nem decepcionados estão. Acreditam que, assim como o rei Sebastião I de Portugal, precocemente morto em uma batalha aos 24 anos, encontrado com o corpo mutilado, Bolsonaro voltará para enfim vencer o sistema e o comunismo.

Traumatizados, por motivos que não cabe aqui relatar, o povo português dizia que o rei estava apenas desaparecido, retornaria para restaurar a glória de Portugal. Emergiu o sebastianismo, mito que afetou também o Brasil, colônia daquele país.

Desde então, precisamos de salvadores, eles estão hoje nas cores ideológicas polarizadas do Brasil. Bolsonaro é o sistema, Lula também, mas a República insite em cultuar o sebastianismo. Outro mal é o populismo. Juntos e arraigados apontam para um Brasil com enorme passado pela frente.

Jair Bolsonaro já vai tarde. Espero que não volte. Nem morto, muito menos vivo com sua cruzada extremista, cruel e sádica.