Moro tira a máscara de Bolsonaro e vira antagonista

Bolsonaro é vírus grave. Sua prática política é a prática patrimonialista, a família em primeiro lugar.
Sérgio Moro pediu demissão. Foto: Reprodução.

Sérgio Moro, o juiz da Lava Jato que se tornou superministro de Jair Messias Bolsonaro, chuta o balde em grande estilo, delatando o chefe que, em verdade, o queria mesmo ver longe do Palácio do Planalto.  Há meses, com o estilo estúpido que lhe é peculiar, produzia demonstração disso, só não vê a horda de puxa sacos e eleitores incautos.

Sérgio Moro tirou  a máscara de Bolsonaro. Virou antagonista e, nessa condição, é um presidenciável peso pesado, com uma reputação forjada no duríssimo trabalho conduzido na Operação Lava jato.

O discurso de Moro, ao anunciar a demissão, parece coisa bem estudada, estratégica, talhada para ser o antagonista.

Me chamou atenção este trecho:

“ O presidente me disse mais de uma vez que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele [na Polícia Federal], que ele pudesse ligar, colher relatórios de inteligência. Realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm que ser preservadas. Imaginem se durante a própria Lava Jato, o ministro, um diretor-geral, presidente, a então presidente Dilma, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento.”

Bolsonaro é vírus grave. Sua prática política é a prática patrimonialista, do  passado, antiga, a família em primeiro lugar, semelhante àquela história de “sabe com quem está falando?” Daí para pior.

Depois, perceberam a citação ? O “carrasco” do PT afagou o eleitorado petista. Pode ter feito uma comparação apenas para expor tecnicamente que a autonomia da instituição deve ser preservada. Pode não ser, e nesse caso o juiz está bem atento às circunstâncias políticas que parecem se agravar, na direção de se desalojar Bolsonaro do poder. Só para lembrar: por estes dias, o PT aprovou o Fora Bolsonaro, abandonando, ao que parece, a oposição reticente e quieta nestes 15 meses de mandato presidencial.

Quem sabe também uma junção das duas coisas. O fato é que a biografia de Moro, mesmo chamuscada por revelações do Intercept, alavanca fortemente uma ambição presidencial.

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública puxou a máscara de bom moço de Bolsonaro. Se Moro nunca teve o merecido reconhecimento e o apoio em sua pasta deveu-se justamente 1) à inveja e ciúme das estrelas do governo, sempre alvo da caneta de Bolsonaro e 2) ao abandono de uma pauta que, na real, o capitão fingia defender, o do combate à corrupção.

Retirar do cargo de diretor-geral da Polícia Federal um experiente profissional como Maurício Valeixo, especialista em lavagem de dinheiro no campo internacional, virtude rara e super necessária nesse continente tropical, sem motivo justificado, é a maior e mais constrangedora constatação disso.

Pobre Brasil.