Assistente jurídica do Movimento Agro indígena, a liderança Xavante Luciene Kujãesage Kayabi,49 anos, disse em depoimento à CPI das ONGs nesta terça-feira, 4, que as Organziações Não-governamentais (ONGs) querem tutelar os povos indígenas para dominar as riquezas do subsolo e que as nações indígenas não querem mais essas entidades “falando por nós.“
“Pela liberdade que têm, dada pelo poder político, pelo poder público, elas tem capacidade de manipular os indígenas. Manipulam do começo, meio e fim o sonho dos povos indígenas de ser independente financeiramente, e controlam a falácia de que vamos perder a nossa cultura, perder algo que nem delas é, é nosso. Se não mudarmos a forma de lutar, lutar de verdade pelo povo indígena, não vamos estar fazendo nada pela vida humana dos nossos povos,” disse Luciene.
Defensora da dignidade das etnias por meio do trabalho, da liberdade de produzir nas terras em que vivem, a liderança indígena Luciene disse que pelo mais de 300 caciques já atuam no Movimento Agro Indígena e oito etnias estão plantando com muita dificuldade.
“Isso por causa de embargos que o próprio Ministério do Meio Ambiente impõe, multando por derrubar uma árvore. Mas cadê a multa das ONGs quando meu povo está morrendo de fome ou quando está doente?,” questionou. Luciene Kayabi disse que os Xavante estão trabalhando arduamente para que obstáculos jurídicos venham ser vencidos no Ibama para que o povo possa plantar, e considera “inaceitável uma arvore ter mais valor do que uma vida, é preciso mudar as leis.”
“As ONGs foram criadas para proteger os povos indígenas. E quais são as ONGs que estão protegendo o nosso povo? Se alguém aqui citar, vou parabenizar. Se não tiver, vou ajudar a CPI a colocar todas no seu devido lugar. Vocês não gostariam que seu lar fosse invadido para ser organizado por outra pessoa, para que teu quarto, tua casa, tua família fosse manipulada. Queremos viver da maneira que queremos e desejamos,” disse.
“Queremos viver com dignidade, o nosso povo necessita se desenvolver; os povos indígenas pedem socorro à cúpula do poder para que possamos nos desenvolver com dignidade. Tem leis que nos proíbem de plantar,” afirmou, lembrando que o Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) nas aldeias é muito baixo e não há educação suficiente para todos os povos indígenas.
As ONGs, para a liderança Xavante, só trouxeram miséria e fome. “Existem aldeias que não passam de 30 indivíduos. Não conseguem aumentar sua família. Porque a doença vai eliminando. E onde estão as ongs? Elas só querem o domínio financeiro do que arrecadam no exterior e do governo brasileiro para nos tutelar. E nem ao menos conhecemos os representantes, os principais líderes dessas ONGs,” disse.