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“Política de unidades de conservação é câmara de gás verde,” diz líder da Terra do Meio, no Pará   

A degradação social e a miséria so vem aumentando na Terra do Meio, no Pará.
Marcelo Norkey: ONGs geram desequilíbrio e contribuem para a degradação social. Foto: Roque de Sá.

A criação de Unidades de Conservação (UCAs) na Terra do Meio, em Altamira, no Pará, é uma política estimulada por Organizações não-Governamentais com aprovação do governo brasileiro de forma “incoerente, equivocada e irresponsável” em desacordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), criado por lei em 2000.

Foi o que explicitou nesta terça-feira, 4, à CPI das ONGs, Marcelo Norkey Duarte Pereira, graduado em Gestão Ambiental, ex-conselheiro da UCA Estação Ecológica Terra do Meio e atualmente da Area de Preservação Ambiental Triunfo do Xingu, na Terra do Meio, em Altamira, no Pará.

De 2000 para cá, avaliou Marcelo Pereira, “o desequilíbrio nesse processo causado pelas ONGs, não apenas no aspecto da criação das UCAs mas também nas leis e sua implementação, no trabalho e vida dos produtores e moradores da região amazônica” tem causado cada vez mais degradação social.

A Estação Ecológica Terra do Meio, criada em 2005, é segundo ele uma das principais estratégias de contenção do desmatamento, e as vítimas são a população local. “Ali é como se fosse uma câmara de gás verde; ribeirinhos foram arrebatados por essa política ambiental da caixa vazia. Quando se compra um produto de outro país, espera a caixa chegar, abre e tem nada dentro. Essa é a política apoiada pelo governo brasileiro,” afirmou.

“A caixa que foi paga pelos fundos internacionais para criar um mosaico de unidades de conservação na Terra do Meio, que é um os maiores do mundo, está vazia. E a degradação social e a miséria só vem aumentando. E o que nós da Amazônia vivemos, o satélite não vê, que é a nossa realidade. Vê as estradas, o desmatamento. Não calcula a realidade de pobreza das pessoas da Amazonia,” afirmou.

Marcelo vê como utopias ações em biofloresta, economia verde, desenvolvimento sustentável. “É rendimento e riqueza para alguns, para nós, se a gente não trabalhar duro, não produzir, não conseguimos dar as mesmas oportunidades para os filhos de gente que comanda as ONGs. Infelizmente, do jeito que está, quanto mais floresta, mais pobreza. A floresta é o fomentador da pobreza e da miséria,” afirma Marcelo Pereira.

O conselheiro  trouxe um vídeo aos senadores de uma moça de 25 anos moradora de uma comunidade da Terra do Meio com altura e peso muito inferiores para alguém da sua idade, condição decorrente do raquitismo, o que não é raro na região.

“A população sofre com falta de comida, é uma realidade. E muitos estão esperando há 18 anos a relocação, a indenização prevista para a Terra do Meio e ninguém olha para a lei do Snuc, parece que ela não existe. A criação dessas unidades de conservação sem critério técnico é uma política pública que está promovendo a maior degradação social do Brasil,” disse.

Além de Marcelo Duarte, foram convidados da CPI das ONGs nesta terça-feira,4, o cacique da aldeia Bragança, de Santarém (PA) Miguel dos Santos Correa e a liderança indígena Luciene Kujãesage Kayabi, que é advogada.