Saúde quer ampliar isolamento, fechando escolas e universidades

O ministro Luiz Henrique Mandetta está sob forte pressão para atender a posição do presidente Bolsonaro, que colide com a postura técnica da saúde. Foto Marcello Casal.

Em documento a gestores do SUS, técnicos pedem medidas mais restritivas a partir de 6 de abril

 Blog da Mara com informações de Mateus Vargas e Julia Lindner, O Estado de S.Paulo

Na contramão do discurso do presidente Jair Bolsonaro de afrouxar medidas restritivas de circulação de pessoas por causa do coronavírus, integrantes do Ministério da Saúde elaboraram documento de recomendações para os gestores do SUS de todo o país, no qual listam as ações até agora realizadas pela pasta e projetam o endurecimento de medidas de distanciamento social e isolamento a partir de 6 de abril.

Eles propõem o fechamento de universidades e escolas, e proibição de eventos com aglomeração,  como jogos de futebol. Na sexta-feira, 27, durante entrevista ao Programa Brasil Urgente, o presidente Jair Bolsonaro defendeu a realização de jogos de futebol com público reduzido para 10% da capacidade dos estádios.

Os técnicos recomendam medidas mais restritivas em abril, maio e junho. No balanço de atividades já realizadas ou encaminhadas, eles mencionam a previsão do governo ter de criar mais 20 mil leitos de internação para atender a demanda dos infectados no próximo mês.

No plano de ação da quarentena, a ser executado nos próximos três meses, há a previsão de se contratar trabalhadores informais para atuar como promotores de saúde durante a resposta à covid-19. A ideia é que eles orientem as pessoas na rua, identifiquem idosos que estão fora do isolamento para enviá-los para casa, além de atuarem na limpeza de superfícies.

Outras medidas incluem a proibição de qualquer evento de aglomeração (shows, cultos, futebol, cinema e teatros). Há, ainda, previsão de redução em 50% da capacidade instalada em bares e restaurantes.

As medidas apontadas no documento são  mais restritivas do que as que vinham sendo passadas pelo Ministério da Saúde oficialmente até agora. Estados e Municípios saíram na frente decretando cancelamento de aulas, suspensão de atividades no comércio  e eventos com aglomerações.

Os técnicos consideram possibilidade de vir a sofrer represálias por endurecer as medidas em meio ao discurso do presidente pela volta à normalidade no Brasil, a fim de retomar atividades econômicas. Uma das possibilidades ventiladas é a eventual demissão da equipe de Vigilância em Saúde (SVS), mais resistente à postura de Bolsonaro.

O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, afirmou que a entidade não apoia “qualquer recuo no sentido de afrouxamento de isolamento e sim uma transição na direção de sua ampliação, na medida da necessidade”.

“Esperamos que a equipe técnica do Ministério possa seguir seu trabalho serio, técnico e cientificamente orientado, sem que qualquer outra orientação se sobreponha ao interesse da proteção da saúde e da vida das pessoas”, afirmou Beltrame.

Estudo do Imperial College de Londres, instituição que vem fazendo quase em tempo real projeções matemáticas do crescimento da pandemia e avaliações das ações em andamento nos países, estima 44 mil mortes por Covid-19 no Brasil. Somente o isolamento vertical, como defende o presidente Bolsonaro, resultará em mais de 500 mil mortes.