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A COP 30 em Belém: Que Deus nos livre e guarde

Os bilhões de reais do BNDES poderiam ser melhor utilizados no saneamento de todos os estados da Amazonia Legal ou regularização fundiária da região.
Presidente Lula com o governador do Pará, Helder Barbalho firmaram compromisso para a COP em Belém. Foto: Ricardo Stuckert.

Que Deus nos livre e guarde. Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que pretende realizar a COP-30 na cidade de Belém, em novembro de 2025, já lembrei da Copa das Copas de maior superfaturamento nas obras de quaisquer estádios feitos no mundo, por aqui pelo Brasil, uma vergonha pela qual pagamos até hoje com o suado dinheiro dos impostos, com punição quase nenhuma para os que fizeram da construção dos estádios em 2014 um monumento à corrupção.

Lembrei também do governador paraense Helder Barbalho, do MDB, partido parceiro do PT para toda obra, que o diga a Lava Jato. É que tenho sérias dúvidas se Barbalho cuidará bem do dinheirinho bom que terá à disposição com o propósito de preparar Belém para sediar o evento e receber os figurões que dirigem o destino do mundo.

O BNDES acenou com R$ 5 bilhões em recursos reembolsáveis e não reembolsáveis, e não menos do que R$ 3 bilhões seriam concedidos via financiamento, anunciou o presidente do banco, Aloizio Mercadante (PT), dizendo que o governo estadual tem capacidade de endividamento. Eu não duvido.

Duvido muito, e há carradas de razão, é do propósito prático no país de tantas necessidades miseráveis e inadiáveis de jogar esse e mais um bocadão de dinheiro que estão sendo cogitados em um “projeto COP-30 prioritário” dentro do BNDES, disse Mercadante, e da lisura estadual e federal no manejo dos recursos, quando me vem à mente – ô coisa danada – a imagem da polícia fazendo apreensão nos locais de trabalho e residência de Barbalho por conta da compra superfaturada de respiradores na época da pandemia. Aparelhos que foram devolvidos porque eram inadequados para o combate à doença.

O Superior Tribunal de Justiça, instancia que julga governadores, disse à época que o próprio governador teria negociado diretamente com empresário para antecipadamente ter sido pagos R$ 25 milhões, sem licitação. “A decisão aponta para indícios de crimes previstos na Lei de Licitações, prevaricação e corrupção passiva,” registrou então a CNN.

Os bilhões de reais do BNDES poderiam ser melhor utilizados no saneamento de todos os estados da Amazonia Legal ou regularização fundiária da região ou ainda para melhor estruturar o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia, Inpa; Museu Emilio Goeldi; ampliar recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia; investir em cientistas na Amazonia; em projetos focados na bioeconomia; abrir linhas de crédito para energia da biomassa etc.

Preparar Belém para receber figurões que andam pelo mundo a cada COP dormindo, passeando, comendo e bebendo do bom e melhor, gastando dinheiro da população, para fazer de conta que estão preocupados com o clima, o meio ambiente do mundo e com a Amazônia é achar que todo mundo é idiota.

Levantamento feito no ano passado mostra que apenas 11 de apenas 196 países apresentaram planos com metas climáticas ambiciosas, exigidas na COP 26, um deles a China, digna de aplausos. No mais, é só bla bla bla. Não reduzem o dióxido de carbono, tampouco o uso de combustível fóssil.

Já pensou ter de ampliar em Belém a rede hoteleira, estruturar espaços para reuniões e debates, obras de mobilidade urbana, infraestrutura urbana, empreendimentos diversos etc.? Manusear os bilhões do BNDES e muito mais em tantas obras com a eventual suspeita de ter a seu encalço alguma investigação? Consta que Barbalho está empolgado em fazer investimentos em ônibus elétricos e energia renovável. Ah, como eu desconfio de tudo! Sorry.

O governo do Pará será eficiente como uma China, de novo, que consegue erguer e colocar em pé uma cidade completa em dois anos? Para que mesmo vamos sediar a COP-30 numa cidade amazônica na qual tudo tem de ser feito para atender delegações que chegam a 50 mil pessoas?

A grandeza grandiosa da Amazônia talvez seja capaz de apontar para a supervalorização mórbida que Luiz Inácio Lula da Silva faz de si mesmo, fazendo-o crer o  quão é temerária a ideia de anunciar Belém, na COP em Dubai que se realizará neste ano de 2023, como sede para a Conferência das Nações Unidas para o Clima em 2025.

Não tenho muita esperança. Porém, quem saiba, talvez.