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Antes e depois de Marielle Franco: a chance de implodir o crime organizado no Brasil

O govermo federal não pode entrar com apenas meio copo no combate ao crime organziado; tem de entrar de corpo e alma.
Vereador Marielle Franco era ativista dos direitos humanos. Foto: Reprodução/Youtube.

A resolução do assassinato da vereadora Marielle Franco e suas circunstâncias exibem o que todos nós já sabíamos: que o crime político sobrevive entre nós e que as milicias e facções estão umbilicalmente ligadas ao poder de repressão do aparato da segurança pública do Rio de Janeiro. A pergunta é: será uma página virada?

Pelos indicadores da falta de confiança na segurança pública do país como um todo e pela preocupação com a violência, não há na sociedade a percepção de que a realidade que destila diante de nós impunidade e corrupção no Estado mudará de uma hora para outra.

Afinal o Brasil, não apenas o Rio de Janeiro, está dominado pela bandidagem dentro e fora das cadeias públicas, fazendo do trafico de drogas e contrabando de armas, para citar dois crimes dos mais proeminentes e lucrativos, uma usina de dinheiro e uma desgraça sem fim no meio de famílias inteiras.

Em particular no Rio de Janeiro, o antes e depois de Marielle Franco no tratamento e combate ao crime organizado fará muita diferença para garantir à sociedade a percepção de que tudo de fato vai mudar, para melhor, e que o rigor e o destemor em combater bandidos de fora e de dentro da estrutura da Segurança Pública sejam feitos com racionalidade, muita inteligência e sem ideologia.

É absurdamente inadmissível acontecer o que aconteceu, e certamente isso não é exceção na polícia, de se nomear um delegado, Rivaldo Barbosa, cuja ficha funcional registrava àquela altura compromisso com o crime e não com os deveres profissionais do cargo que ocupava.

Disfuncional, corrupto, Barbosa era personagem de um parecer do subsecretário da Segurança Pública do Rio de janeiro que recomendava fortemente o seu afastamento de cargos importantes e sua não nomeação para a direção da Civil naquele momento de intervenção.

O general Richard Nunes, à época da intervenção no Rio de Janeiro feita pelo presidente Michel Temer, assumiu a Secretaria de Segurança pública, foi alertado sobre esse relatório e ignorou a recomendação, que vinha ainda de outros agentes sérios da polícia carioca.

Em 2019, recorda o jornal O Globo, o miliciano Orlando Curicica, investigado pelo homicídio de Marielle e Andreson Gomes, disse à promotora do caso, na penitenciária federal de Mossoró, que Rivaldo Barbosa recebia dinheiro para engavetar investigações de homicídio relacionadas à contravenção no Rio de Janeiro.

“A senhora sabe que vai ter de prender o chefe de polícia?,” disse Curicica durante o interrogatório.

Ele disse mais: “A corrupção é monstruosa envolvendo a contravenção. Por exemplo, não existe um inquérito contra a contravenção. A senhora pode pegar todos os inquéritos da (Delegacia de) Homicídios, do Rivaldo pra cá, da gestão Rivaldo pra cá. Não tem um que acuse a contravenção de matar alguém entendeu?”.

Então, o que acontece? O chefe de Polícia fica impune todos esses anos. A mesma coisa o conselheiro Domingos Brazão, mais um no elástico Brasil da impunidade com costas largas na justiça.

Em setembro de 2019, a procuradora-geral Raquel Dodge apresentou denúncia contra ele. Foi para as calendas.

Continuou desfrutando de salário superior a R$ 50 mil, mostrando que o crime compensa sim. A mesma coisa o Brazão irmão, deputado federal.

A dupla começou a discutir o assassinato de Marielle em 2017 com Rivaldo Barbosa, o homem da Polícia do Rio que planejou a empreitada.

A resolução do caso Marielle não termina com a elucidação dos autores intelectuais do assassinato dela e de seu motorista, possível com a delação de Perneta, assim denominado o ex-policial militar Ronnie Lessa.

Vai terminar, se os governos estaduais e federal assim o desejaram, com um forte e inequívoco manifesto de basta a esse estado de coisas, ao Estado paralelo do crime.

Quantas autoridades em postos de influência seguem impunes praticando ilicitudes e violações à Constituição Brasil afora? O Estado seguirá de pernas abertas permitindo que as facções e milicias penetrem cada vez mais nas estruturas institucionais para ditar as leis do crime?

“O crime organizado não terá sucesso,” disse na coletiva de domingo o ministro Ricardo Lewandowski.  Lamento informar, mas já é sucesso estrondoso, ministro. O senhor não lê jornais?

Sua gestão e o governo federal tem oportunidade única ao concluir parte do enredo que durante seis anos esteve oculto para levar a Segurança Pública a novo patamar.

Não pode apenas entrar com meio copo, tem de entrar de corpo e alma no combate ao crime organizado no Brasil, coordenar o sistema em parceria indissolúvel com os estados, sejam governados por quem forem.